Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
Pablo Neruda
Pablo Neruda
5 comentários:
E está tudo dito.
Não conhecia estas sábias palavras. Mais um motivo para admirar esse grande senhor.
Embora ... eu queixei-me um bocado da "chuva incessante". Será que é muito grave? E também não sei se tenho força para virar a mesa quando estou infeliz no trabalho. É que aquilo é de madeira maciça. Acho melhor esquecer que li essas duas e concentrar-me só nas outras.
Lindo poema-lição do grande Pablo Neruda, um dos meus poetas preferidos, senão mesmo 'o meu poeta'. Aconselho toda a sua obra mas quem quiser pode sempre começar pelos seus "20 poemas de amor e uma canção desesperada".
Os poemas no fundo são como laxantes,no bom sentido da palavra.
É algo que por vezes nos trás alivio gratificante em situações de amargura e no final nos deixa um sorriso de orelha a orelha com a satisfação de realização...
Vou seguir a sugestão da Sofia, porque de facto este senhor era um génio, juntamente com o nosso Fernando Pessoa.
E já agora ando a ler o Agostinho da Silva cuja obra todos os portugueses deviam conhecer. A lucidez dele, o raciocínio são impressionantes. Recomendo.
Enviar um comentário